Por que o cristianismo?

Dado aos recentes acontecimentos, a pergunta que mais me comove é, “por que escolhemos o cristianismo?”. De tempos em tempos o mundo se transforma de alguma maneira, às vezes para pior, outras para melhor. Mas algo me intriga. Por que depois de dois milênios de debates calorosos e batalhas sangrentas entre grupos distintos, por que tanto se preza e se preocupa em manter vivos textos de tão longa data? Pouco me agradam os erros do passado, mas algo deve ser levado em conta: o cristianismo evolui, e é feito para tal, diferentemente do islamismo — religião posta em pauta na presente argumentação — , que é estagnada em sua própria essência.
Assim, é de se dividir as linhas esse pensamento. O primeiro ponto — e mais importante — é sanar a diferença entre conservadores, conservantistas e reacionários. A igreja (em sentido genérico) é repleta de muitos, mas é construída pelos primeiros. Ser um conservador é ser aquele que está em constante reflexão, mas, diferentemente dos reacionários, suas reflexões não se desprendem do passado, mas caminham juntamente com o mesmo. Explico. Um conservador, nas palavras de Bernardo de Chartres, é aquele que se coloca sobre os ombros dos gigantes, para que seus pensamentos sejam sempre voltados àquilo que no passado foi bom e mudá-lo, na medida de sua necessidade. Um conservantista, por outro lado, é aquele que meramente é contra qualquer progresso, não havendo reflexão, mas uma mera estagnação do pensamento cristão. De mesmo modo, temos os reacionários, que são aqueles que mantém a reflexão, mas sobre qualquer ponto de vista, desde que novo seja.
Conservantistas pseudocristãos, lancem suas pedras, pois é fato que a doutrina não se baseia em procedimentos, mas em princípios. Tudo aquilo que o cristianismo representa são os pilares que o manteve em pé desde o primeiro discípulo e o sustentará até o último homem.
“Porque o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las (…)” Lucas, c. IX, v. LVI.
E é aí que mora a diferença. Os pilares que sustentam o cristianismo são simples e puros, sendo suas orientações objetivas e imutáveis em essência, mas seus meios de cumprimento são postos, nos moldes do jusnaturalismo teológico, em constantes conflitos com os interesses humanos individuais. A ausência do zelo pelo direito do indivíduo em escolher seus próprios caminhos é aquilo que torna o islã — antigo invasor e agora quase dominador da Europa — uma doutrina sempre ultrapassada, não importando o período do tempo em que ela se encontra. Basta uma simples observação e verás que a liberdade e a prosperidade são frutos de uma caridade individualista, onde a pessoa é a autora de sua própria vida e responsável por sua própria salvação.
A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a maldade do pai, nem o pai a maldade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele — Ezequiel, c. XVIII, v. XX.
E isso, ao passo de que seus juízos serão feitos de maneira individual e julgados por Deus, no que cabe à sua alma, e pela justiça do homem, no que vale à sociedade, todos possuem autonomia de agir como bem pretende; e mesmo a descrença de que Deus pode vir ou não a ser real também é fruto de escolhas próprias. Em poucas palavras, isso é problema seu, arque com suas consequências como quem escolheu investir tudo na Petrobras porque disseram que ela iria estourar até 2014 (no bom sentido). E estourou mesmo (mas no mal).
Ainda, àqueles que buscam a solução por meio de outras vias, podemos alcançá-las mesmo no outro lado do globo, onde, por mesmos princípios, podemos observar as semelhanças dos países mais prósperos ao desenvolvimento individual com a relação de sua religião oficial. Em todos os lugares da Ásia onde a base da sociedade se deu de maneira parecida com a ocidental, os resultados foram também parecidos. Isto porque a liberdade de escolher aquilo que te fará melhor é também rodeada pelo dever prezar por aquilo que fez melhor a sociedade antes de você. Como Tenzin Gyatso, o Dalai-Lama, coloca, a opressão nunca conseguiu suprimir nas pessoas o desejo de viver em liberdade.
Não há necessidade de se fundamentar em vida no pensamento post-mortem cristão, pois mesmo o mais fiel dos apóstolos também tinha dúvidas de sua fé. Mas — e aí está um grande mas —, há um divisor de águas entre aquilo que não se permite evoluir e aquilo que é feito para tal.
A Europa vem ignorando o mais básico do pensamento conservador, numa desmazela quase demoníaca com tudo aquilo que a construiu. Todo tijolo queimado, família destruída e atentado realizado (seja por imigrantes, seja pela própria UE contra o povo) marca o início de uma provável era de trevas coloridas para a história de um continente que se construiu por lutas, mortes e muitas vitórias ao indivíduo e sua construção de pensamento. Vindo a sucumbir a uma liberdade de correntes, onde o inimigo entra pela porta da frente, o dono da casa o serve um café e lhe oferece a própria esposa como pedido de desculpas por algo que não cometeu — sim, estou falando das cruzadas e do pós-modernismo europeu, que me enoja de tal modo que me sinto como se estivesse vendo um animal comendo as próprias fezes.
O reacionarismo, independentemente de sua ideologia (volte ao segundo parágrafo), que nega o passado em busca de um futuro unitário e inclusivo, é o que tem causado tamanha desolação em todos que se presam à manutenção de tão belas nações, que se veem cercadas por seus próprios governantes. Os recentes acontecimentos ( e outros não tão recentes assim) são mais do que suficientes para refletir sobre, e talvez chegarmos a uma conclusão — já que não cabe a mim colocar alguma como a correta. No entanto, os motivos para uma mudança são muitos e qualquer sã consciência sabe para onde as pernas do progressismo exacerbado nos está levando.
Hoje, enfrentamos muitos problemas. Alguns criados por nós em consequência de diferenças ideológicas, religiosas, raciais, econômicas. Entretanto, chegou o momento de pensarmos em um nível mais profundo, em nível humano, e a partir daí apreciar e respeitar essa mesma condição nos outros seres humanos. Todos queremos a felicidade e evitar o sofrimento. Todos queremos o direito de ser felizes, e aí reside a nossa igualdade fundamental. Não é necessário seguir filosofias complicadas. Nosso próprio cérebro, nosso próprio coração é o nosso templo. A filosofia é a bondade. Dalai-Lama.
Deus nos proteja. Estamos precisando. E muito.